Menu principal
 

O debate envolvendo a posse da terra na região centro-oeste de Santa Catarina, apresenta por vezes, os indígenas Xokleng como desocupados, selvagens e indolentes. Essa população, conhecida como cabocla e mestiços Xokleng, tradicional na região, sofreu ao longo da história, um violento processo de genocídio, cujo marco foi a Guerra do Contestado, ocorrida no meio oeste catarinense entre 1912 e 1916 (THOMÉ,2005).

Os Xokleng são uma etnia pertencente ao grupo linguístico Jê que ocupava os vales e encostas da Serra Geral e parte do Planalto Meridional no sul do Brasil. Foram denominados também de “botocudos” assim como várias outras etnias, por causa do adorno de madeira chamado botoque, usado nos lábios e orelhas para afastar os maus espíritos e assustar os inimigos. Portanto, as práticas mágico-divinatórias faziam parte do seu cotidiano e relacionavam-se com a cultura material.

Os instrumentos de trabalho dos Xokleng são pré-históricos, datados do
período neolítico – baseado na técnica de produção de artefatos a partir da fricção de lascas de pedra menos resistentes com pedras mais duras.

No Museu de Taquaruçu, bem como em vários outros locais da região, pode-se perceber a presença de artefatos líticos relacionados ao grupo Xokleng, embora isto passe despercebido pela população local.

Outro aspecto interessante observado na região é a existência de habitações subterrâneas. De acordo com Thomé (2010; 106) as aldeias Xokleng eram compostas por habitações subterrâneas que tiveram origem em tempos anteriores a este povo. Elas datavam de povos pré-históricos pertencentes à “tradição taquara” – grupos ceramistas neolíticos. Teria havido, posteriormente, segundo Thomé (2010; 88) um processo de continuidade das habitações subterrâneas entre os povos pré-históricos da tradição taquara e os grupos indígenas do sul do Brasil de origem não guarani.

Na região do meio oeste catarinense é comum serem encontradas casas subterrâneas em territórios tradicionalmente ocupados pelos Xokleng. Segundo relatos de memorialistas locais, como o sr. Pedro Felisbino, os descendentes Xokleng da região são unânimes em afirmar que seus antepassados habitavam casas subterrâneas, confirmando a hipótese de Thomé.

Apesar da existência de estudos arqueológicos na região, observou-se a necessidade de sistematizar esses conhecimentos através de uma perspectiva histórica, relacionando os traços da cultura material com a produção da vida nas comunidades Xokleng.

O patrimônio material deixado pelos Xokleng em vários sítios arqueológicos no meio oeste catarinense são importantes fontes de pesquisa de sua história. São mais visíveis por sua concretude observável no presente e constituem a maior riqueza do patrimônio cultural herdado de seu passado ainda pouco conhecido (UNESCO, Carta de Paris, 2003).